Saber-Sentir/Descobrir-Praticar

K
2 min readOct 13, 2020

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Tenho essa insegurança, essa aflição na garganta, na boca do estômago. Não sei se nascida da possessão, da comparação ou da inveja: vontade de ter, vontade de ser, vontade de usufruir.

O clichê nos diz que nossas atitudes e sentimentos em relação ao outro revelam mais sobre nós do que sobre ele. Sei que o clichê tá certo. Ainda assim, existe uma estrada longa e sem mapa entre o Saber e o Sentir. Uma estrada que já vislumbrei, mas ainda não percorri.

Da mesma forma, precisamos transformar nosso trato com o outro pra transformar o jeito como tratamos a nós mesmos. Essa foi minha principal descoberta dos últimos meses.

(Quando digo “descoberta”, é preciso esclarecer: não me interessa que já tenham dito isso antes, que não seja original. Defino o conceito como “uma conclusão alcançada internamente e de maneira solitária”; pouco importa que outros a tenham alcançado antes, depois ou simultaneamente— aliás, é o que se espera que aconteça, considerando a esmagadora e irrefreável universalidade humana.)

Mas, retomando, entre descobrir e ser capaz de praticar existe ainda uma outra estrada que só podemos cruzar quando o trajeto entre Saber e Sentir está completo — é como se o Sentir fosse o meio do caminho entre o Descobrir e conseguir Praticar.

Enfim. O único jeito de ser melhor comigo, é ser melhor com você. O único jeito de me sentir capaz de ser livre, independente, é permitir, proteger e apreciar a sua liberdade. E vice-versa (ovo/galinha/galinha/ovo).

Não importa, hoje, entender se essa aflição, essa insegurança na boca do estômago, vem da possessão, da comparação ou da inveja. O que importa é usar esses momentos aflitos e cambaleantes pra exercer o que foi descoberto. Se não for possível apreciar essa liberdade no outro, que seja possível, ao menos, permiti-la e suportá-la. Pode ser que, com isso, eu estenda a mesma permissão a mim e, com a igualdade, venha o apreço.

Me parece, no fim das contas, que o Sentir não é o ponto intermediário entre Descobrir e Praticar. Parece-me que a estrada Saber-Sentir é paralela à estrada Descobrir-Praticar: temos um pé em cada uma, e o avanço só é sustentável quando é simultâneo.

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